terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma História que influencia a minha história.


Com os ombros erguidos e em pé minhas mãos mergulhavam a lavar o arroz. Uma típica função de mulher, poderia dizer uma alma machista. Meus pensamentos, sem dúvida, voavam por vários lugares, e principalmente, em diversas épocas. Todavia, todas minhas reflexões converteram-se, simultaneamente, em um pequeno diálogo de meu irmão com seu colega. Sobre uma mesa de refeições ele estudava à História de uma maneira que muito tempo confesso não assistia. Suas falas eram as seguintes:
_ Letra a é Napoleão – dizia meu maninho caçula
_ Está certo – completava seu amigo
_ Letra b é D. Pedro – respondia sem a necessidade de saber qual era a interrogação
_Letra c é? – tentou-se lembra com a feição de quem esquece algo definitivo
E naquele momento meu irmão disse algo, que para mim soou como uma coronhada: “não lembro da pergunta.” Eu já sabia desde o começo que a maneira que seguia o estudo era apenas um reflexo antigo, e que parece imutável, suas falas evidenciavam uma decoreba, que marcara a muito tempo minha vida.Lembro-me com a mesma intensidade da época quantas vezes eu decorava perguntas e respostas. Na 2ª série entrei em prantos por não conseguir transpor uma decoreba na prova. Mas, não foi este período que me marcou de fato; o ano era o de 2004 mais precisamente a antiga 5ª série e atual 6º ano, a professora de história tinha uma personalidade de alguém divertida e que produzia grande eficiência.
Aquela docente trouxe-me uma enorme e gratificante experiência, pois proporcionou a primeira prova que depositaria o meu, e só meu conhecimento. Ela entregou uma apostila de algumas páginas sem nenhuma questão. Apenas nos fitou e disse: “estudem!” Não questionei sua afirmação, contudo, olhava aquelas folhas sem parar, como quem interroga: “como vou fazer a prova se não tem perguntas para estudar?”
No mesmo dia relembro; eu deitada com muitas folhas lendo sem interrupções. Recordo que, minha mãe chegou a brigar, já que, ultrapassei o limite do horário. Aquele fato me traz tantos anseios, não consigo nem esquecer o tema que estudara, Maomé, esta era a parte da história que consumia meus olhos e pensamentos. Penso agora, será que foi ali que meu vício de história iniciou?
O inquietante dia chegou, realizei a prova, contudo esperaria o resultado até a outra semana. No instante esperado a professora adentrou a porta e lançou nossas notas como um jogador de beisebol. Já saíra da letra s e faltava pouco para Tatiana, foi quando finalmente ela encarou-me de uma forma bem precisa e disse com o seu leve sorriso entre os lábios, que também demonstra um ar de surpresa: “ oitenta é a sua nota, está dispensada.” Todos olharam para mim abismados, pois foi a maior nota de muitas vermelhas. Naquele instante eu larguei a rocha que estava sobre minhas costas e suspirei tão profundo, que creio ter furtado o oxigênio de alguns. Minhas notas através da terrível gravação na maioria das vezes assumia o patamar do 100, entretanto, nunca tive tanto orgulho de um 80 como aquele dia.
Dali por diante perdi algo: não consigo decorar nada. Minha obsessão é a história e 99% dos que me conhecem sabem disso. Digo algo que para muitos parecerá uma ilusão, mas eu não gravo minha estimulante história. Tudo que leio é guardado na minha mente como uma compreensão e se por ventura tentar infincar uma decoreba, com certeza, terei um mal-estar.
Na conversa de meu irmão pude relembrar este fato que guardo com carinho e que modificou uma parte de minha vida até hoje. Não aceito essa mania de memorizar interruptamente, posso parecer muito otimista ou sonhadora, mas quero que meu alunos compreendam tudo o que eu tentar os passar. Espero não estar sendo equivocada e se tiver com certeza a vida vai me ensinar. Não pude escolher se enfrentaria aquele desafio, mas optaria por ele atualmente, isso não tenho dúvida.
Tatiana C.Carmo

sábado, 4 de setembro de 2010

O que um alguém pode demonstrar


Toda sexta-feira no mesmo horário adentrava a porta da sala de aula uma professora de pele clara e branca, com fios dourados cobrindo-lhe a cabeça. Sua estatura era comum e mantinha um corpo jovial, que se completava com uma feição bonita transmissora de serenidade.
Seus passos, para mim, demonstravam inquietude. Contudo, aquela docente conservava minha atenção por um detalhe, que penso ela desconhecer. Ao começar a explicação criavam-se duas poses intrigantes; – algo que gosto de decifrar – encostava o ombro na parede verde segurando um pedaço de giz e jogava-o alguns centímetros acima de suas mãos, através de um movimento sem força e repetitivo. “Porque ela fazia isso?” Perguntava-me com uma curiosidade aguda. Outra mania era manter sua desenhada mão sobre a maçaneta da porta, também quando começava a falar. Tenho certeza que mal ela desconfiava que na primeira cadeira do meio, eu dividia meus olhos e ouvidos entre suas explicações e a decodificação daqueles comportamentos.
Creio que a maneira que se punha era uma forma de liberar uma intensa inquietação. Pois, percebi que a cada dia que aquele ser único colocava seus pés sobre o escorregadio piso da sala, significava um novo dia de desafios e superações - algo que observei que somente ela tinha. Entretanto, não foram esses gestos que prenderam meus pensamentos, mas em uma atitude que se expressava com todos que ela falara. Sei que a mestra – agora entenderam o porquê da sua diferença – não percebia, mas todas as vezes que alguém lhe chamava ela dobrava seus joelhos, qual quem se assenta no ar e colocava seus membros superiores sobre a mesa dos discentes os olhando de forma firme e com doçura, assim atingia a mesma altura de quem estivesse sentado. Confesso que não tenho aquele olhar preciso, no entanto, declaro que nunca gostei de pessoas que escondem os olhos uma das outras.
O jeito de se abaixar era traduzido por mim, como alguém que deixa a condição de autoridade e se iguala para transpor o que pensa. Olhos fixos carregavam uma grande afirmação: “prefiro a sinceridade”. Suas palavras eram intermediadas por uma voz meiga e branda.
Agora é fácil entender porque eu a diferenciava dos outros. A docente não era perfeita, – apesar de desconhecer seus defeitos – todavia, sem dúvida se tivesse que lhe atribuir um adjetivo, este seria excepcional. Até porque quem mais prenderia minha atenção com aquelas poses, que na minha mente fértil ganham significados ocultos?


Tatiana C.Carmo