Com os ombros erguidos e em pé minhas mãos mergulhavam a lavar o arroz. Uma típica função de mulher, poderia dizer uma alma machista. Meus pensamentos, sem dúvida, voavam por vários lugares, e principalmente, em diversas épocas. Todavia, todas minhas reflexões converteram-se, simultaneamente, em um pequeno diálogo de meu irmão com seu colega. Sobre uma mesa de refeições ele estudava à História de uma maneira que muito tempo confesso não assistia. Suas falas eram as seguintes:
_ Letra a é Napoleão – dizia meu maninho caçula
_ Está certo – completava seu amigo
_ Letra b é D. Pedro – respondia sem a necessidade de saber qual era a interrogação
_Letra c é? – tentou-se lembra com a feição de quem esquece algo definitivo
E naquele momento meu irmão disse algo, que para mim soou como uma coronhada: “não lembro da pergunta.” Eu já sabia desde o começo que a maneira que seguia o estudo era apenas um reflexo antigo, e que parece imutável, suas falas evidenciavam uma decoreba, que marcara a muito tempo minha vida.Lembro-me com a mesma intensidade da época quantas vezes eu decorava perguntas e respostas. Na 2ª série entrei em prantos por não conseguir transpor uma decoreba na prova. Mas, não foi este período que me marcou de fato; o ano era o de 2004 mais precisamente a antiga 5ª série e atual 6º ano, a professora de história tinha uma personalidade de alguém divertida e que produzia grande eficiência.
Aquela docente trouxe-me uma enorme e gratificante experiência, pois proporcionou a primeira prova que depositaria o meu, e só meu conhecimento. Ela entregou uma apostila de algumas páginas sem nenhuma questão. Apenas nos fitou e disse: “estudem!” Não questionei sua afirmação, contudo, olhava aquelas folhas sem parar, como quem interroga: “como vou fazer a prova se não tem perguntas para estudar?”
No mesmo dia relembro; eu deitada com muitas folhas lendo sem interrupções. Recordo que, minha mãe chegou a brigar, já que, ultrapassei o limite do horário. Aquele fato me traz tantos anseios, não consigo nem esquecer o tema que estudara, Maomé, esta era a parte da história que consumia meus olhos e pensamentos. Penso agora, será que foi ali que meu vício de história iniciou?
O inquietante dia chegou, realizei a prova, contudo esperaria o resultado até a outra semana. No instante esperado a professora adentrou a porta e lançou nossas notas como um jogador de beisebol. Já saíra da letra s e faltava pouco para Tatiana, foi quando finalmente ela encarou-me de uma forma bem precisa e disse com o seu leve sorriso entre os lábios, que também demonstra um ar de surpresa: “ oitenta é a sua nota, está dispensada.” Todos olharam para mim abismados, pois foi a maior nota de muitas vermelhas. Naquele instante eu larguei a rocha que estava sobre minhas costas e suspirei tão profundo, que creio ter furtado o oxigênio de alguns. Minhas notas através da terrível gravação na maioria das vezes assumia o patamar do 100, entretanto, nunca tive tanto orgulho de um 80 como aquele dia.
Dali por diante perdi algo: não consigo decorar nada. Minha obsessão é a história e 99% dos que me conhecem sabem disso. Digo algo que para muitos parecerá uma ilusão, mas eu não gravo minha estimulante história. Tudo que leio é guardado na minha mente como uma compreensão e se por ventura tentar infincar uma decoreba, com certeza, terei um mal-estar.
Na conversa de meu irmão pude relembrar este fato que guardo com carinho e que modificou uma parte de minha vida até hoje. Não aceito essa mania de memorizar interruptamente, posso parecer muito otimista ou sonhadora, mas quero que meu alunos compreendam tudo o que eu tentar os passar. Espero não estar sendo equivocada e se tiver com certeza a vida vai me ensinar. Não pude escolher se enfrentaria aquele desafio, mas optaria por ele atualmente, isso não tenho dúvida.
Tatiana C.Carmo
