domingo, 17 de outubro de 2010
Pensando..
Entretanto, pude perceber que muito pior é ter e não poder.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Uma História que influencia a minha história.
Com os ombros erguidos e em pé minhas mãos mergulhavam a lavar o arroz. Uma típica função de mulher, poderia dizer uma alma machista. Meus pensamentos, sem dúvida, voavam por vários lugares, e principalmente, em diversas épocas. Todavia, todas minhas reflexões converteram-se, simultaneamente, em um pequeno diálogo de meu irmão com seu colega. Sobre uma mesa de refeições ele estudava à História de uma maneira que muito tempo confesso não assistia. Suas falas eram as seguintes:
_ Letra a é Napoleão – dizia meu maninho caçula
_ Está certo – completava seu amigo
_ Letra b é D. Pedro – respondia sem a necessidade de saber qual era a interrogação
_Letra c é? – tentou-se lembra com a feição de quem esquece algo definitivo
E naquele momento meu irmão disse algo, que para mim soou como uma coronhada: “não lembro da pergunta.” Eu já sabia desde o começo que a maneira que seguia o estudo era apenas um reflexo antigo, e que parece imutável, suas falas evidenciavam uma decoreba, que marcara a muito tempo minha vida.Lembro-me com a mesma intensidade da época quantas vezes eu decorava perguntas e respostas. Na 2ª série entrei em prantos por não conseguir transpor uma decoreba na prova. Mas, não foi este período que me marcou de fato; o ano era o de 2004 mais precisamente a antiga 5ª série e atual 6º ano, a professora de história tinha uma personalidade de alguém divertida e que produzia grande eficiência.
Aquela docente trouxe-me uma enorme e gratificante experiência, pois proporcionou a primeira prova que depositaria o meu, e só meu conhecimento. Ela entregou uma apostila de algumas páginas sem nenhuma questão. Apenas nos fitou e disse: “estudem!” Não questionei sua afirmação, contudo, olhava aquelas folhas sem parar, como quem interroga: “como vou fazer a prova se não tem perguntas para estudar?”
No mesmo dia relembro; eu deitada com muitas folhas lendo sem interrupções. Recordo que, minha mãe chegou a brigar, já que, ultrapassei o limite do horário. Aquele fato me traz tantos anseios, não consigo nem esquecer o tema que estudara, Maomé, esta era a parte da história que consumia meus olhos e pensamentos. Penso agora, será que foi ali que meu vício de história iniciou?
O inquietante dia chegou, realizei a prova, contudo esperaria o resultado até a outra semana. No instante esperado a professora adentrou a porta e lançou nossas notas como um jogador de beisebol. Já saíra da letra s e faltava pouco para Tatiana, foi quando finalmente ela encarou-me de uma forma bem precisa e disse com o seu leve sorriso entre os lábios, que também demonstra um ar de surpresa: “ oitenta é a sua nota, está dispensada.” Todos olharam para mim abismados, pois foi a maior nota de muitas vermelhas. Naquele instante eu larguei a rocha que estava sobre minhas costas e suspirei tão profundo, que creio ter furtado o oxigênio de alguns. Minhas notas através da terrível gravação na maioria das vezes assumia o patamar do 100, entretanto, nunca tive tanto orgulho de um 80 como aquele dia.
Dali por diante perdi algo: não consigo decorar nada. Minha obsessão é a história e 99% dos que me conhecem sabem disso. Digo algo que para muitos parecerá uma ilusão, mas eu não gravo minha estimulante história. Tudo que leio é guardado na minha mente como uma compreensão e se por ventura tentar infincar uma decoreba, com certeza, terei um mal-estar.
Na conversa de meu irmão pude relembrar este fato que guardo com carinho e que modificou uma parte de minha vida até hoje. Não aceito essa mania de memorizar interruptamente, posso parecer muito otimista ou sonhadora, mas quero que meu alunos compreendam tudo o que eu tentar os passar. Espero não estar sendo equivocada e se tiver com certeza a vida vai me ensinar. Não pude escolher se enfrentaria aquele desafio, mas optaria por ele atualmente, isso não tenho dúvida.
Tatiana C.Carmo
sábado, 4 de setembro de 2010
O que um alguém pode demonstrar
Toda sexta-feira no mesmo horário adentrava a porta da sala de aula uma professora de pele clara e branca, com fios dourados cobrindo-lhe a cabeça. Sua estatura era comum e mantinha um corpo jovial, que se completava com uma feição bonita transmissora de serenidade.
Seus passos, para mim, demonstravam inquietude. Contudo, aquela docente conservava minha atenção por um detalhe, que penso ela desconhecer. Ao começar a explicação criavam-se duas poses intrigantes; – algo que gosto de decifrar – encostava o ombro na parede verde segurando um pedaço de giz e jogava-o alguns centímetros acima de suas mãos, através de um movimento sem força e repetitivo. “Porque ela fazia isso?” Perguntava-me com uma curiosidade aguda. Outra mania era manter sua desenhada mão sobre a maçaneta da porta, também quando começava a falar. Tenho certeza que mal ela desconfiava que na primeira cadeira do meio, eu dividia meus olhos e ouvidos entre suas explicações e a decodificação daqueles comportamentos.
Creio que a maneira que se punha era uma forma de liberar uma intensa inquietação. Pois, percebi que a cada dia que aquele ser único colocava seus pés sobre o escorregadio piso da sala, significava um novo dia de desafios e superações - algo que observei que somente ela tinha. Entretanto, não foram esses gestos que prenderam meus pensamentos, mas em uma atitude que se expressava com todos que ela falara. Sei que a mestra – agora entenderam o porquê da sua diferença – não percebia, mas todas as vezes que alguém lhe chamava ela dobrava seus joelhos, qual quem se assenta no ar e colocava seus membros superiores sobre a mesa dos discentes os olhando de forma firme e com doçura, assim atingia a mesma altura de quem estivesse sentado. Confesso que não tenho aquele olhar preciso, no entanto, declaro que nunca gostei de pessoas que escondem os olhos uma das outras.
O jeito de se abaixar era traduzido por mim, como alguém que deixa a condição de autoridade e se iguala para transpor o que pensa. Olhos fixos carregavam uma grande afirmação: “prefiro a sinceridade”. Suas palavras eram intermediadas por uma voz meiga e branda.
Agora é fácil entender porque eu a diferenciava dos outros. A docente não era perfeita, – apesar de desconhecer seus defeitos – todavia, sem dúvida se tivesse que lhe atribuir um adjetivo, este seria excepcional. Até porque quem mais prenderia minha atenção com aquelas poses, que na minha mente fértil ganham significados ocultos?
Tatiana C.Carmo
sábado, 28 de agosto de 2010
O velho cantor da pátria
O dia estava ensolarado, típico da libertação de um período frígido. No ponto de ônibus, sentada eu esperava alguns minutos até o transporte coletivo aparecer. Enquanto isso, deixava o meu olhar percorrer a praça da cidade, observando cada indivíduo que ali estava sem a menor preocupação com o relógio. Se tivesse que descrever a paz que aquele local trouxera; poderia expressar a grandiosidade das belas árvores ao seu redor.Um senhor de óculos grandes se pôs a sentar ao meu lado. Percebi que de seus lábios brotavam uma antiga e intrigante canção patriótica. Como quem espera escutar uma curiosidade, eu agucei meus ouvidos tentando ouvir aquela voz branda.O educado cantor me fascinava e furtava minha atenção. Dentro de mim queria pedir aquela cidade, com seu rotineiro barulho um pouco de silêncio, e se por ventura me negacem, minha feição diria sem qualquer som; “calense”. Naquele momento único que desfrutara, ouviu-se gritos juvenis, ou melhor, era apenas uma conversa com característica de anuncio de circo. Certos jovens, sentaram-se no ponto de ônibus e afirmavam com sua atitude: “atenção, queremos atenção.” O velho senhor começa a narrar um fato: “Um dia uma mãe gritou, Gabriel, Gabriel pega o relógio e o anel". Tentei desvendar o porque desta história sem lógica para o momento, e percebi que aquele velho cantor patriótico apenas ligara o fio de um grito a outro, apesar de circunstâncias distintas. Os jovens tiraram sua música, mas o fizeram reviver um período.Queria poder terminar de escutar sua história, ou se quer aquela canção brasileira, porém o esperado ônibus do músico desconhecido acabara de chegar. Mesmo tendo um imenso óculos sobre os olhos, duvidei da capacidade de suas pupilas e apontei onde estava o ônibus que iria para Guapimirim. O enigma de meu dia foi-se sem virar-se ao menos o rosto. Eu terminei a esperar por alguns segundos meu ônibus, e os jovens incoerentes seguiam com uma pequena discussão para descobrir se um cartão magnético era digital ou não.Não sei se foi coincidência ou interseção divina, mas nesta terrível interrogação juvenil meu transporte chegou, livrando assim, meus ouvidos seduzidos pelo patriotismo de um estopim argumentado por aqueles mancebos.
Tatiana C.Carmo
sábado, 21 de agosto de 2010
Foi no aniversário de minha mãe...
Oramos e depois fizemos o dejejum. No final do café da manhã batem no portão, meu irmão abri e volta com uma feição de repúdio dizendo: “mãe é aquele garoto de novo”. Mamãe, coração doce, diz: "mande-o entrar". Meu maninho com um suspiro diz: "Ah! Que garoto chato". Entretanto, a obedece. Uma das amigas se despede e com educação a aniversariante a leva até o portão. Olha o menino e fala: "meu amor, hoje é o aniversário da tia Rosi". O moleque a abraça, ou melhor, a agarra, com a mesma intensidade do amor que ela demostra ter por ele.O menino senta na mesa farta e observa com olhos famintos. Minha fortaleza pede para que eu prepare pão para ele e no mesmo instante ela coloca o café no leite.Posso dizer que como meus irmãos também pensara o mesmo, que garoto chato, vem aqui todos os dias. Mas meu coração perguntava alto de mais: “Tati e se fosse você passando por dificuldades em casa?” Naquele exato instante eu grudei meus olhos no garoto de pele negra, olhos cabisbaixo, mãos pesadas, corpo forte. Ele só tinha oito anos e era quase do meu tamanho. Apesar de pouca idade, ele já era desprezado pelos outros. Eu perguntava ao olhar sua blusa amarrotada, seus olhos que se desviavam do meu: “seria eu mais uma?” E no estalo dessa pergunta eu corri para o computador, pois minha inspiração para escrever é assim; eu fico a mercê dela, ou vou quando ela aparece ou espero ela voltar. E no final disto que escrevo, relembro com distância de poucos minutos, o amor que meu exemplo de educadora, professora e principalmente mãe realizara ao olhar com amor divino quando alguém precisa, e amar este ser como poucos amariam, isto é, com demonstração. Nisto tenho a certeza que a resposta para interrogação: “seria eu mais uma?” É sem dúvida, não posso a genética não me permite.
Obrigado mãe por me demonstrar lições até no dia do seu aniversário.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Ensinar é assim...
No ambiente eu não era a única, um ser que entrou na minha vida compartilhava aquele momento raro. O meu aluno olhava aquilo tal qual eu, com olhos inertes.
Sorria para ele e continuava o tradicional ditado, sua escrita eu apreciava, afinal, minhas palavras mostravam a realidade em sua grossa letra, típica de um alfabetizando. Com elogios pelos acertos o discente escrevia: “A noite está muito fria. Uma estrela...”
Meus lábios não seguiam mais meus comandos, ficaram erguidos, com a evidente expressão de quem declara está feliz. De fato era visível isto, pois aquele abençoado moleque totalmente hiperativo, finalmente, despontava na leitura. Parabenizá-lo era o que mais fazia e seu sentimento em aprender mostrava uma afirmativa com a uma dose de interrogação: “Eu consegui!?”. Mal sabia ele que com o mesmo ímpeto interior eu pensara: “Nós conseguimos!?”. Uma certeza obtive, eu nasci para isso.
Percebi também que o astro furtador de atenções metaforizara aquele momento, pois ensinar era assim: com momentos que nos faz brilhar e partes que se apagam, como resposta de algo tão maravilhoso, que deve existir falhas, mas que se eterniza, já que, o ensinar sempre estará lá no coração de quem foi escolhido por alguém muito maior para realizar essa fascinante tarefa.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Se os tubarões fossem homens
Autor: Bertolt Brecht
